Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
Fernando Assis Pacheco
Eu vi andar as pegas na Avenida
num tórrido Verão, ardia Agosto.
Se aquilo que faziam era a vida,
mas que puta de vida! Quanto rosto
sumido e consumido nessa lida,
à mercê do ferrete, e do sol-posto
dissimulado sob a perseguida
labuta marginal. A contragosto,
dei por mim a olhar, a ver de perto
um vulto que exibia o passo incerto
e arrastava os pés, de esquina em esquina.
Mas perdi o seu rasto, a sua sombra;
vislumbrando, a desoras, na penumbra,
a máscara fatal de Messalina.
http://domingosmota.blogspot.pt/2014/08/a-mascara-fatal-de-messalina.html
sábado, 30 de agosto de 2014
#7 - A MÁSCARA FATAL DE MESSALINA, Domingos da Mota
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
#6 - O QUE HÁ DE MAIS SELVAGEM EM MINHA VIDA, Ladyce West
Respeito o mar, sua força, sua paixão.
É profundo, imoderado, impetuoso e potente.
Cruel, enérgico, aniquilador e intenso.
Mar sereno não existe. É uma máscara.
Por trás da superfície calma há uma pujança brutal.
Ele hipnotiza e seduz. Mas é um mau amante.
É agressivo, destruidor, cruel. Feroz.
É o que há de mais selvagem em minha vida.
É profundo, imoderado, impetuoso e potente.
Cruel, enérgico, aniquilador e intenso.
Mar sereno não existe. É uma máscara.
Por trás da superfície calma há uma pujança brutal.
Ele hipnotiza e seduz. Mas é um mau amante.
É agressivo, destruidor, cruel. Feroz.
É o que há de mais selvagem em minha vida.
-
Suas ondas acarinham a areia para seduzir.
“Molhe os pés, que belos tornozelos”, parece dizer.
“Venho beijar-te; não me canso de beijar-te.”
E no descuido, genioso e irritadiço, encapelado e bravio
Ele te leva, te ingere, te traga.
Ele te engole, te sorve, te consome e devora.
O mar, imenso, azul, verde, cinzento, faminto, enigmático e feroz
É o que há de mais selvagem em minha vida.
“Molhe os pés, que belos tornozelos”, parece dizer.
“Venho beijar-te; não me canso de beijar-te.”
E no descuido, genioso e irritadiço, encapelado e bravio
Ele te leva, te ingere, te traga.
Ele te engole, te sorve, te consome e devora.
O mar, imenso, azul, verde, cinzento, faminto, enigmático e feroz
É o que há de mais selvagem em minha vida.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
#5 - A SAÍDA DO FAROLEIRO, Carla M. Soares
Já não tenho medo,
fugiu-me
numa vaga.
É criatura fraca,
coisa de nada
contra os monstros de água
no promontório.
As paredes desta torre
estremecem como donzela
em conto de fadas
e acho que gemem de dor
as fundações.
Açoita-as o sal deste mar
feroz,
hoje talvez se despedacem.
Quantos anos resistiu
comigo no bojo,
quantos anos de luz no vazio perigoso
da noite no cabo.
No estertor sonoro aquieto-me,
compreendo,
nesta guerra sem vencedores
o derrotado sou eu.
Morro no remoinho
que me acorrenta o coração.
Saio como quero.
Ato-me à lâmpada que ainda rompe
este horizonte de fúria.
Sou Ulisses
Deixo vir a sereia lamber-me os pés
Engolir-me os joelhos,
Trepar pelo tremer das coxas
devorar-me o peito
e quando me beijar na boca
ofereço-lhe
o último fôlego
e vou.
E se a pedra persistir
onde eu rendi o corpo e alma,
hão de encontrar-me aqui
gravado nela.
#4 - ESCREVO PORQUE SENÃO EU MORRO, Hellen Hosseini
Escrevo porque não sei desenhar, nem cantar. Embora eu goste de cantar meu blues todos os dias. Escrevo mesmo falando muito. Também escrevo muito. Escrevo para homens que pouco leem. Escrevo porque esses homens só não me alcançam porque não querem. Escrevo porque o ingresso do show que eu quero ir tá caro demais, acho que não vou mais. Escrevo porque não sou das matemáticas e mesmo assim ainda escrevo mal.
Escrevo porque só gosto de quem não dá nada por mim. Escrevo porque não tenho peso para doar sangue. Escrevo porque não tenho aparência de moça mais velha e os moços que quero me veem como menina moça. Escrevo porque desço a rua já pensando que não tenho nada para fazer em casa. Mas adoro ficar em casa. Escrevo porque não tenho dinheiro para comprar todos os livros de todos os meus escritores preferidos.
Escrevo por querer encarcerar na minha poesia quem não para de se esconder atrás das minhas mil paranoias. Escrevo para a tristeza se afastar. Escrevo porque não posso me aproximar. Escrevo porque não me dou bem com a minha mãe. Escrevo porque um dia quero ser uma boa mãe. Escrevo porque meu-primeiro-suposto-amor não me amou. Escrevo porque não sei qual é o meu filme favorito. Escrevo porque quando eu crescer quero escrever igual a Hilda Hilst. Escrevo porque quando eu crescer quero sentir como a Adélia Prado.
Escrevo porque sou obcecada pela demência alheia. Escrevo porque eu mataria se pudesse, e vejo que nada me impede. Escrevo porque sou covarde. Escrevo porque quando eu falo, nem eu me escuto. Escrevo porque não posso fazer sua risada tocar no rádio. Escrevo porque você não quer que sua risada toque no rádio. Nem em mim. Escrevo porque sou a ovelha negra da família. Escrevo porque gosto de ser assim. Escrevo porque não sou o orgulho de ninguém. Escrevo porque não preencho ninguém. Escrevo porque ninguém têm nada com isso.
Escrevo porque dói. E doer é bom. Escrevo porque sou masoquista. Escrevo porque como Caio Fernando Abreu, quero ser amada por alguma coisa que escrevi. Escrevo porque aquele homem disse que iria lembrar de mim pela minha poesia, mas nunca mais me procurou. Escrevo porque não consigo mais beber sem chorar. Escrevo porque chorar é patético quando é por alguém que nem sabe que eu detesto cenouras. De novo as cenouras.
Escrevo porque não posso adotar todos os gatos abandonados pela cidade. Escrevo porque meus amigos vivem com pressa. Escrevo porque eu só tenho a pressa de escrever mais esse texto. Escrevo porque deixar de ser criança foi a pior coisa que me aconteceu. Escrevo porque não ando de bicicleta há anos. Escrevo porque desaprendi a subir numa árvore. Escrevo porque reconheço quem não me conhece até de costas. Escrevo porque meu nariz é feio. Escrevo porque seu nariz afrontoso não sai da minha cabeça.
Escrevo desde guria, quando fazia listas do que gostaria de ter. Com sete anos eu queria ter uma vaca. Saudade. Escrevo porque hoje só quero paz. Paz pra nós. Escrevo porque não posso fazer nada quanto a guerra no Oriente Médio. Escrevo porque ganho pouco e sou explorada. E não me atrevo a largar esse emprego. Escrevo porque não aceito o prazo de validade que as coisas/sentimentos/pessoas têm. Escrevo porque não posso escolher a minha família e meus amigos estão se extinguindo. Escrevo porque nunca viajei de avião e a tragédia vive no ar.
Escrevo porque mesmo tendo aprendido a não esperar muito faço isso por ilusão. Escrevo porque não sei fazer outra coisa. Escrevo para mulheres que nunca foram amadas. Escrevo porque não me acho bonita, mas a vida é. Nem sempre. Escrevo porque gosto da contradição. Escrevo por Inácio e Antonina, meus filhos bem amados que ainda vão nascer. Escrevo porque vou ter três filhos, e o nome do terceiro já escolhi mas não falo. Penso que vai ter o nome do pai.
Escrevo porque inventar é a minha única forma de viver. Escrevo porque só quero fazer isso.
Escrevo por amar Adélia Prado, que escreveu isso:
Eu não servia para ter nascido,
para comer com boca, andar com pés
e Ter dentro de mim oito metros de tripas
desejando a filigrana de tua íris
cuja cor não digo para não estragar tudo
e novamente ficar coberta de ridículo.
Escrevo, porque não fui eu quem escreveu:
Quem és? Perguntei ao desejo. Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
Foi Hilda. Deusa dos Grandes Nadas
http://editandoasaudade.blogspot.pt/2014/07/escrevo-porque-senao-eu-morro.html
Escrevo porque só gosto de quem não dá nada por mim. Escrevo porque não tenho peso para doar sangue. Escrevo porque não tenho aparência de moça mais velha e os moços que quero me veem como menina moça. Escrevo porque desço a rua já pensando que não tenho nada para fazer em casa. Mas adoro ficar em casa. Escrevo porque não tenho dinheiro para comprar todos os livros de todos os meus escritores preferidos.
Escrevo por querer encarcerar na minha poesia quem não para de se esconder atrás das minhas mil paranoias. Escrevo para a tristeza se afastar. Escrevo porque não posso me aproximar. Escrevo porque não me dou bem com a minha mãe. Escrevo porque um dia quero ser uma boa mãe. Escrevo porque meu-primeiro-suposto-amor não me amou. Escrevo porque não sei qual é o meu filme favorito. Escrevo porque quando eu crescer quero escrever igual a Hilda Hilst. Escrevo porque quando eu crescer quero sentir como a Adélia Prado.
Escrevo porque sou obcecada pela demência alheia. Escrevo porque eu mataria se pudesse, e vejo que nada me impede. Escrevo porque sou covarde. Escrevo porque quando eu falo, nem eu me escuto. Escrevo porque não posso fazer sua risada tocar no rádio. Escrevo porque você não quer que sua risada toque no rádio. Nem em mim. Escrevo porque sou a ovelha negra da família. Escrevo porque gosto de ser assim. Escrevo porque não sou o orgulho de ninguém. Escrevo porque não preencho ninguém. Escrevo porque ninguém têm nada com isso.
Escrevo porque dói. E doer é bom. Escrevo porque sou masoquista. Escrevo porque como Caio Fernando Abreu, quero ser amada por alguma coisa que escrevi. Escrevo porque aquele homem disse que iria lembrar de mim pela minha poesia, mas nunca mais me procurou. Escrevo porque não consigo mais beber sem chorar. Escrevo porque chorar é patético quando é por alguém que nem sabe que eu detesto cenouras. De novo as cenouras.
Escrevo porque não posso adotar todos os gatos abandonados pela cidade. Escrevo porque meus amigos vivem com pressa. Escrevo porque eu só tenho a pressa de escrever mais esse texto. Escrevo porque deixar de ser criança foi a pior coisa que me aconteceu. Escrevo porque não ando de bicicleta há anos. Escrevo porque desaprendi a subir numa árvore. Escrevo porque reconheço quem não me conhece até de costas. Escrevo porque meu nariz é feio. Escrevo porque seu nariz afrontoso não sai da minha cabeça.
Escrevo desde guria, quando fazia listas do que gostaria de ter. Com sete anos eu queria ter uma vaca. Saudade. Escrevo porque hoje só quero paz. Paz pra nós. Escrevo porque não posso fazer nada quanto a guerra no Oriente Médio. Escrevo porque ganho pouco e sou explorada. E não me atrevo a largar esse emprego. Escrevo porque não aceito o prazo de validade que as coisas/sentimentos/pessoas têm. Escrevo porque não posso escolher a minha família e meus amigos estão se extinguindo. Escrevo porque nunca viajei de avião e a tragédia vive no ar.
Escrevo porque mesmo tendo aprendido a não esperar muito faço isso por ilusão. Escrevo porque não sei fazer outra coisa. Escrevo para mulheres que nunca foram amadas. Escrevo porque não me acho bonita, mas a vida é. Nem sempre. Escrevo porque gosto da contradição. Escrevo por Inácio e Antonina, meus filhos bem amados que ainda vão nascer. Escrevo porque vou ter três filhos, e o nome do terceiro já escolhi mas não falo. Penso que vai ter o nome do pai.
Escrevo porque inventar é a minha única forma de viver. Escrevo porque só quero fazer isso.
Escrevo por amar Adélia Prado, que escreveu isso:
Eu não servia para ter nascido,
para comer com boca, andar com pés
e Ter dentro de mim oito metros de tripas
desejando a filigrana de tua íris
cuja cor não digo para não estragar tudo
e novamente ficar coberta de ridículo.
Escrevo, porque não fui eu quem escreveu:
Quem és? Perguntei ao desejo. Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
Foi Hilda. Deusa dos Grandes Nadas
http://editandoasaudade.blogspot.pt/2014/07/escrevo-porque-senao-eu-morro.html
Subscrever:
Mensagens (Atom)