quinta-feira, 27 de novembro de 2014

#18 - O CADERNO, Sónia M.

O céu desaba na rua indefesa. Chora o céu.
E em mim chove. A noite parece ser mais noite,
mais escura, quando chove. 

Na mão seguro um caderno de capa vermelho-sangue. 
E foi com o sangue de alguma veia que me rebentou 
nos dedos, que dei vida a todas as páginas. 

Sinto dizer que não deixarei muito,
a não ser este caderno: silêncios que me arderam
nos ossos, porque a vida queimava.
Onde as dores devoram o papel nicado e amarelecido,
mais que o tempo. O que deixo são uns quantos
momentos comovidos e alguma mágoa alvoraçada.
Um cálice cheio da melancolia que os meus olhos beberam.
Se o leres, promete que não sentirás pena.
É nas profundezas dos abismos que se equilibra a vida,
e a noite se abre.  Sei que é pouco. Muito pouco.
Julgamos sempre ser mais do que algumas vez fomos,
ou seremos.



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