sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

#26 - À MÃO, Rosangela Ataíde

tenho sempre à mão
uma virtude e um defeito
para quando o medo vem
e falta ousadia
para quando a coragem sobressai
e me torno insolente

para que me sirva de esteio
tenho sempre à mão
não reservas -
carapuças!
que visto em dias
favoráveis
e de frio

tenho sempre à mão
o que me convém

um perfil que irradia
uma ausência tão só minha

tenho sempre à mão
papel, lápis 
um estilete
e um punhado de covardia

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

#25 - OCASIONAL

O espanto pela dádiva rotineira de cada dia
O inesperado que me faz viver habitualmente
A surpresa do habitual quotidiano.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

#24 - RACHADURA, Flá Perez

Você estanca o corte, tampa a ferida,
(da maneira que pode)
e um dia
essa defesa cai,
a mão afrouxa, deixa de apertar,
(porque uma outra mão convida)
então
nada contém a correnteza forte
- ela sai desabrida,
tão raivosa,
correndo o tempo perdido por ser escondida -

o remédio é afogar-se:
nadar contra essa vontade toda
não pode ser considerado Vida.


http://tudoqpuderbyblabla.blogspot.pt/2012/05/rachadura.html

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

#23 - FALO-TE DO FALO

Falas-me do falo
E eu fico sem fala
Da falta que te faz
O falo
A porra do falo
Que num instante
Nos calaria.


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

#22 - VOYEUR, Domingos Barroso

Perdão por chegar à tua casa sempre atrasado.
A culpa é da minha vizinha que passa horas
indecisa com o que vai vestir.

Meus olhos são pivetes atrevidos.
Deleitam-se diante da janela aberta.

A vizinha, como disse antes,
é relutante: calcinhas,  jeans,
vestidos, camisetas

nada a satisfaz
de imediato.

Range os dentes, faz careta,
morde a língua, dá pulinhos.

Meus olhos de querubim decaído
adoram esse ritmo louco
da vizinha.

Tu me pediste pra que eu fosse
em todas as situações sincero
contigo.

Desculpa, meu bem,
por chegar à tua casa

sempre atrasado com essa cara
de lobo mau que comeu
maçãs rosadinhas.

Meus olhos são uma peste,
uma peste, uma peste,
uma peste.


http://domingosbarroso.blogspot.pt/2012/08/voyeur.html

domingo, 4 de janeiro de 2015

#21 - BUSCA, Pedro Du Bois

busca: viemos de terras tantas
                                             a mesma
paisagem nos percorre sempre
                                         mudanças
estéticas não alteram a imagem
                                         a força
no crescimento do sentido em fuga
do não descobrimento
                                    incorporamos a hora
e retiramos o tosco arcabouço do extrato
espúrio das sentenças
                        pensar
                              saber o quanto
a busca é inútil em conciliábulos
e palestras de vozes contrapostas
em teses e antíteses
                           sabemos do sentimento
encarcerado em sorrisos de verdades
em assumidos óbices
                        óbolos
                                 saciedades:
no horror nos dizemos indiferentes ao fato
do recomeço
      entendemos avançar o tanto
acobertado em palavras: repetimos
histórias descontadas dos efêmeros
                                           ousamos
arremedar terras percorridas em jornadas
ambicionadas de conquistas: busca