Feito à imagem e semelhança
do inalcançável
o homem mata
por prazer,
por engano,
por encomenda.
Às vezes mata
para testar a arma,
a perícia,
o calibre,
os limites
do tédio
ou da pontaria.
Matar é fácil,
tranquilo,
confere poder
e prestígio.
Alguns fazem fortuna,
outros gravam riscos em pistola.
Sempre houve aqueles que viraram estátuas.
Mata-se por nada,
porque alguém não gostou
de uma certa camisa azul,
de um perfume adocicado,
de um tom de voz desagradável,
ou porque vizinhos festejam
o quinto aniversário de uma menina.
Também se mata um vulto furtivo no escuro.
Mata-se por passatempo,
por verdades e inverdades,
por vastas propriedades,
por falta ou excesso de grana,
por erro de cálculo ou informação falsa.
Mata-se fora
e dentro da lei.
Alguns matam com alegria.
Observe, amigo,
aquele homem sereno
comendo pipoca.
O ar tranquilo,
óculos de mestre,
orelhas de judoca.
Pois acredite,
matou a cara metade
meia hora atrás,
entrou na fila do cinema;
meia-entrada
para comédia romântica.
A consciência? Pura leveza bailarina.
Feito à imagem e semelhança
do inalcançável
o homem mata
por intolerância,
por impotência,
por cega obediência.
Compaixão agora
só em tiros de misericórdia.
http://eclipsecomigo.blogspot.pt/2015/05/cidade-de-caim.html
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