quinta-feira, 11 de junho de 2015

#35 - PUEMA, Dalai Lima

Lia lia lia lia
Lia lia todo o dia
Sucede que Lia,
Parece,
Não percebia
Patavina
Do que lia.

domingo, 24 de maio de 2015

#34 - CIDADE DE CAIM, José Antônio Cavalcanti



Feito à imagem e semelhança
do inalcançável
o homem mata
por prazer,
por engano,
por encomenda.

Às vezes mata
para testar a arma,
a perícia,
o calibre,
os limites
do tédio
ou da pontaria.

Matar é fácil,
tranquilo,
confere poder
e prestígio.
Alguns fazem fortuna,
outros gravam riscos em pistola.
Sempre houve aqueles que viraram estátuas.

Mata-se por nada,
porque alguém não gostou
de uma certa camisa azul,
de um perfume adocicado,
de um tom de voz desagradável,
ou porque vizinhos festejam
o quinto aniversário de uma menina.
Também se mata um vulto furtivo no escuro.

Mata-se por passatempo,
por verdades e inverdades,
por vastas propriedades,
por falta ou excesso de grana,
por erro de cálculo ou informação falsa.
Mata-se fora
e dentro da lei.
Alguns matam com alegria.

Observe, amigo,
aquele homem sereno
comendo pipoca.
O ar tranquilo,
óculos de mestre,
orelhas de judoca.
Pois acredite,
matou a cara metade
meia hora atrás,
entrou na fila do cinema;
meia-entrada
para comédia romântica.
A consciência? Pura leveza bailarina.

Feito à imagem e semelhança
do inalcançável
o homem mata
por intolerância,
por impotência,
por cega obediência.

Compaixão agora
só em tiros de misericórdia.

http://eclipsecomigo.blogspot.pt/2015/05/cidade-de-caim.html


quinta-feira, 19 de março de 2015

#33 - QUASE TODOS

Lareira que me acolhe em
Novembro quase estranho
Numa sala do ribatejo mexe
Nemésio as mãos sábias e pose
De cão de estar na tv preta
E branca sobre um parapeito
Com estante e dezenas de
Livros da colecção vampiro.

Quentes as vozes dos anfitriões
E as nossas.

Quase todos mortos.

sexta-feira, 6 de março de 2015

#32 - (ética), Neuza Doretto

Não me iludo
contudo
nem contigo
nem com nada:
A seda pura
não se esgarça pelo manuseio
mas pelo meio
como é  cuidada 
 
 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

#31 - DA MORTE EM VIDA

Eu digo-te como é
A cara dos que sofrem
Muito aqueles que
As tuas lágrimas não
Salvam e haviam já morrido
Quando deste por eles.

É a cara da
Surpresa pelo
Limite do
Suportável da
Existência há
Muito passada.

Eles vivem sem
Querer viver contra
Eles vivem e nós miramos
De longe o rosto
Da dor a máscara
Da desesperança a
Morte em vida.

Outubro 2008


http://janizaro.blogspot.pt/2013/07/da-morte-em-vida.html

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

#30 - ESQUECE, Torquato da Luz

Esquece as horas de dor, o sofrimento
tornado rotina,
esse relógio a marcar o lento
correr dos dias, lâmina fina
que tudo por dentro
dilacera e mina.

Esquece o último tempo, a aflitiva
sensação do fim breve
e retoma na alma em carne viva
a doçura do Verão, cântico leve
que tanto se escreve
como se esquiva.


http://oficiodiario.blogspot.pt/2012/07/esquece.html

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

#29 - ASFALTO

Seca-te a garganta
A poeira que não sabes de onde vem
É o pó do deserto a entranhar-se
Nos teus canais   tu que passas
A vida a inspirar fumo dos escapes
Pois o asfalto foi a tua única aspiração.


http://janizaro.blogspot.pt/2014/02/asfalto.html

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

#28 - SER A TEMPO, Henrique Manuel Bento Fialho

Mais do que ser e tempo
importa ser a tempo
respirar cada segundo
como se o futuro fosse ontem
Da lição que a morte virá
nenhum consolo basta
nem metas para a vida
nada
que andar por cá também é querer
um par de sapatos novos
um cinto, uma camisa, uma bebida fresca
E com tão simples angústias
satisfazer o pouco que resta
de gaivotas em terra
tempestades no mar
Mais do que ser e tempo
importa ser a tempo
nem uma perda desperdiçar
com o futuro
E desfazer o muro das dúvidas
com melodias assobiadas
contra o vento
aguarelas de esperança
nos olhos dos filhos
quando a comoção sobe por nós acima
de os ver rir
descontraídos
Mais do que ser e tempo
importa ir sendo a tempo
de chegar ao fim com a boca cheia de paixão
e uma lua a rebentar algures no peito
perto do coração


http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.pt/2015/02/ser-tempo.html

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

#27 - A GLIMPSE OF HAPPINESS

Alterno raul brandão e ruy belo
Transporte no tempo com el-rei junot
A melhor poesia em grande prosa
Grande poesia que toda a prosa deveria ter


Morte e mais morte entre
Tanta vertigem de fim é
Possível um frémito de

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

#26 - À MÃO, Rosangela Ataíde

tenho sempre à mão
uma virtude e um defeito
para quando o medo vem
e falta ousadia
para quando a coragem sobressai
e me torno insolente

para que me sirva de esteio
tenho sempre à mão
não reservas -
carapuças!
que visto em dias
favoráveis
e de frio

tenho sempre à mão
o que me convém

um perfil que irradia
uma ausência tão só minha

tenho sempre à mão
papel, lápis 
um estilete
e um punhado de covardia

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

#25 - OCASIONAL

O espanto pela dádiva rotineira de cada dia
O inesperado que me faz viver habitualmente
A surpresa do habitual quotidiano.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

#24 - RACHADURA, Flá Perez

Você estanca o corte, tampa a ferida,
(da maneira que pode)
e um dia
essa defesa cai,
a mão afrouxa, deixa de apertar,
(porque uma outra mão convida)
então
nada contém a correnteza forte
- ela sai desabrida,
tão raivosa,
correndo o tempo perdido por ser escondida -

o remédio é afogar-se:
nadar contra essa vontade toda
não pode ser considerado Vida.


http://tudoqpuderbyblabla.blogspot.pt/2012/05/rachadura.html

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

#23 - FALO-TE DO FALO

Falas-me do falo
E eu fico sem fala
Da falta que te faz
O falo
A porra do falo
Que num instante
Nos calaria.


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

#22 - VOYEUR, Domingos Barroso

Perdão por chegar à tua casa sempre atrasado.
A culpa é da minha vizinha que passa horas
indecisa com o que vai vestir.

Meus olhos são pivetes atrevidos.
Deleitam-se diante da janela aberta.

A vizinha, como disse antes,
é relutante: calcinhas,  jeans,
vestidos, camisetas

nada a satisfaz
de imediato.

Range os dentes, faz careta,
morde a língua, dá pulinhos.

Meus olhos de querubim decaído
adoram esse ritmo louco
da vizinha.

Tu me pediste pra que eu fosse
em todas as situações sincero
contigo.

Desculpa, meu bem,
por chegar à tua casa

sempre atrasado com essa cara
de lobo mau que comeu
maçãs rosadinhas.

Meus olhos são uma peste,
uma peste, uma peste,
uma peste.


http://domingosbarroso.blogspot.pt/2012/08/voyeur.html

domingo, 4 de janeiro de 2015

#21 - BUSCA, Pedro Du Bois

busca: viemos de terras tantas
                                             a mesma
paisagem nos percorre sempre
                                         mudanças
estéticas não alteram a imagem
                                         a força
no crescimento do sentido em fuga
do não descobrimento
                                    incorporamos a hora
e retiramos o tosco arcabouço do extrato
espúrio das sentenças
                        pensar
                              saber o quanto
a busca é inútil em conciliábulos
e palestras de vozes contrapostas
em teses e antíteses
                           sabemos do sentimento
encarcerado em sorrisos de verdades
em assumidos óbices
                        óbolos
                                 saciedades:
no horror nos dizemos indiferentes ao fato
do recomeço
      entendemos avançar o tanto
acobertado em palavras: repetimos
histórias descontadas dos efêmeros
                                           ousamos
arremedar terras percorridas em jornadas
ambicionadas de conquistas: busca